06/07/2016

As máscaras de Lobélia


Wahlenbergia lobelioides (L. f.) Link


Não é surpresa, dada a proximidade destas ilhas do continente africano, que parte da flora do arquipélago da Madeira tenha essa origem. Mas a nós, habituados a uma única espécie de Wahlenbergia (a delicada e pequenina W. hederacea, de talos filiformes, que aprecia solos húmidos, turfosos e sombra, e é nativa do oeste da Europa), causa alguma estranheza encontrar em fendas de rochas expostas ao sol, ou em terreno arenoso e árido, outra espécie de Wahlenbergia que até se parece com uma Lobelia (género de que também só temos uma espécie nativa).

É verdade que as flores são parecidas, ambas campanuladas, solitárias e com pedicelos longos, embora numa das espécies as corolas sejam sempre de cor azul-pálido e na outra costumem ser brancas ou de cor lilás. E deve ser esta parecença que de imediato coloca a planta das fotos no género Wahlenbergia. Mas prestemos também atenção às diferenças. A W. hederacea é uma herbácea (perene) glabra, de folhas frágeis cordadas na base, palmadas e pediceladas, que forma tapetes cerrados quando o habitat lhe é favorável. A W. lobelioides, pelo contrário, tem uns pelitos nos caules e porte erecto, com as hastes florais pendentes; as folhas são coriáceas e sésseis, e não vimos mais do que meia dúzia de plantas juntas.

Desta espécie há registo de três subspécies: a W. lobelioides subesp. lobelioides, endémica da Macaronésia, que é planta anual, ocorre na ilha da Madeira, Porto Santo, Selvagens, Canárias e Cabo Verde, e que fotografámos em vários picos do Porto Santo; a W. lobelioides subesp. riparia, da região ocidental da África tropical; e a W. lobelioides subsp. nutabunda, do noroeste de África, região mediterrânica e sudeste de Espanha (estas duas últimas mais hirsutas do que a subespécie madeirense).

E afinal qual é o papel nesta descrição das lobélias? Reconhecemos facilmente as plantas do género Lobelia pelas flores zigomorfas, com dois lóbulos da corola a formar umas orelhas, bem separados dos outros três. Ora, este detalhe morfológico não surge nas flores da Whalenbergia lobelioides, e por isso é legítimo concluir que o epíteto lobelioides não se refere à semelhança das flores. Atentemos então para as folhas, o cálice das flores e o porte. Não há dúvida, pois não? Há que reconhecer que, nestes aspectos, a afinidade entre a planta de Porto Santo e a Lobelia urens é notória. Claro que à análise do especialista não terão escapado outros pormenores, mas nós já nos damos por satisfeitos com esta justificação para o nome desta campanulácea.

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